Livro - Jim Morrison: o poeta-xamã

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O dia em que conheci Jim Morrison

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sábado, 10 de maio de 2008

Jim Morrison: interpretação experimental e cultura



Ao ler um livro com a biografia, entrevistas, poemas e letras de musicas de Jim Morrison eu buscava a história de um ícone do rock que tanto gosto, a exemplo de Eric Clapton, Bruce Springesteen, David Gilmour entre outros. Filho de militar da marinha americana, Morrison foi o vocalista e autor damaior parte das letras da banda rock norte-americana The Doors e acabou tragicamente aos 27 anos. Como tantos outros morreu se imolando por viver o mal estar de uma geração que sofreu com a guerra do Vietnã e a onda da reação e do conservadorismo cultural dos anos 70, que reprimiu a liberdade de expressão e acabou com a democracia. Para implantar um modelo econômicode concentração da riqueza, tirando de circulação o melhor do quetínhamos, o que nos faz viver este momento de desqualificação política, cultural e de exclusão social aqui e no mundo.

Jovem foi para escola, quando elas tinham os melhores professores, lá em e todos os lugares do mundo, pois não haviam ainda sido afastados pelo arbítrio macartista. Jim Morrison, estudou cinema, na Califórnia, tendoJean Renoir como professor e Francis Ford Coppola, como colega, que depois o homenageou em Apocalipse Now, quando no início do filme toca The End. Devorador de livros tornou-se leitor inveterado, explorando os beats, Kerouac, Ginsberg, Blake, Baudelaire, Rimbaud, Nietzsche entre outros. Inspirou-se no teatro de Artaud, que o levou a incorporar a interpretação experimental em seus shows e o ritual do xamanismo. Escreveu “Viajantes na Tormenta” e cantou a história de uma cena que o marcou profundamente, quando ainda criança , durante uma viagem de família ao Novo México, deparou-se com vários índios espalhados pela estrada, sangrando, devido a um acidente de caminhão quando eram transportados na carroceria semproteção e também “Soldado Desconhecido”, um clamor pela paz e em defesa da vida dos milhares de jovens que eram jogados no front da guerra. Incorporou em sua obra a estrutura de duração e melódica da música indiana, flamenca, cigana, do blues, jazz e da bossa nova brasileira.

Ler sobre Jim Morrisom nos faz imaginar como o mundo seria melhor se pessoas como ele e tantos outros que possuíam um padrão cultural e humano acima do seu tempo tivessem sobrevivido, a pressão repressiva que o levou a revolta e ao fim muito jovem. Ler sobre Jim Morrison nos faz pensar como o mundo seria melhor se os melhores professores educados na democracia do pós-guerra, não tivessem sido afastados e perseguidos e não tivesse sido implantada uma reforma de ensino tecnificando e desumanizando o saber, conjugada com a imposição de um sistema de mídia que incentiva o consumo de massa a serviço de um modelo econômico concentrador, que nos deixou como estamos.

Mas não podemos esmorecer, afinal ao ler a biografia de Jim Morrison, entrevistas, poemas e letras de musicas, e captar o olhar visionário e terno de um jovem preparado que cantava a música “O Fim”, dizendo: “Este é o fim belo amigo/Este é o fim/Meu único amigo, o fim/Dos nossos elaborados planos, o fim/Tão sem limites e livre/Este é o fim, belo amigo/Este é o fim, meu único amigo, o fim/Dói-te libertar”, nos faz ter o alimento de um espírito que nos diz: lutem por liberdade, pelademocracia, pela paz, por um mundo mais solidário e justo até o fim, para que os meus assassinos não vençam.

Texto de Geraldo Serathiuk, advogado especializado em direito tributário pelo IBEJ
http://jornale.com.br/zebeto/2007/09/28/os-assassinos-de-jim-morrison-continuam-vivos/

PELICULA DE STONE FICA MUITO AQUÉM DE JAMES DOUGLAS MORRISON



(...)São nessas viagens lisérgicas, no entanto, que o filme se perde. As imagens assumem aspecto psicodélico com o som de poemas ao fundo, declamados pelo narrador. A película de 140 minutos seria mais bem aproveitada se momentos longos como esses ficassem restritos à sala de edição. O grande problema do filme, porém, é a visão superficial que faz dos personagens. O mundo de Jim carece de profundidade. A relação dele com os pais – ele mentia dizendo que estavam mortos – é levemente sugerida. O roteiro, inconsistente, não nos ajuda a compreender a perso-nalidade mutável e violenta do cantor. Morrison exalta a morte, desejando-a. Mas por quê? O que o levou a ser assim?

A resposta pode surgir depois, quando o espectador curioso vai buscar informações extras. A questão é que o roteiro trata os personagens de forma caricatural sem retomar conceitos que o próprio script propõe, como a questão dos mitos. Jim é constantemente levado a acreditar – por fãs, empresários e pelas circunstâncias – que ele é a banda, que sem ele os Doors não seriam nada nem venderiam discos. Nas capas dos álbuns, ele é o rosto do grupo. Ego e vaidade não explorados pelo filme. “Somos nós quem criamos o mito, Jim”, alguém fala no meio da projeção.

Entre uma tragada de whisky e outra, Jim Morrison surge como o sujeito que fala, grita, berra a uma sociedade de conformados: “Vocês são escravos!”. A mudança de personalidade dele do início ao fim da carreira é meramente pincelada. No entanto, a falta de conteúdo é preenchida por música.

Praticamente todas as seqüências são ilustradas por canções. As falhas, porém, não desmerecem a atuação central. Val Kilmer dá vida a Morrison. É dos mais bem sucedidos exemplos de atores interpretando uma personalidade. Aparências físicas e atitudes extravagantes, olhar vago e o jeito de cantar e se movimentar no palco; a coleção de gestos. As escolhas de Kilmer não poderiam ser melhores. Jim está vivo, ainda que o roteiro e a direção deixem a desejar. “Come on, baby, and light my fire!


Reporter: Pedro Santos
Revista: Ponto e Virgula.
www.revistapontoevirgula.com/Arquivo/Agosto2007.pdf

quarta-feira, 7 de maio de 2008

JIM MORRISON - a procura de uma existência superior

Era época de revolução cultural nos EUA: o país estava em meio à Guerra do Vietnã, o movimento hippie declarava sua oposição à violência e pregava o amor livre. Os festivais de músicas exerciam forte influência sobre os jovens. Uma mistura perfeita para o surgimento de um grupo com um líder que se tornaria um mito. Jim Morrison da banda "The Doors". Seu estilo é imitado até hoje. Sua poesia é estudada em universidades. E sua música ouvida no mundo inteiro.

Nascido em Melbourne, na Flórida, no dia 8 de dezembro de 1943, James Douglas Morrison estilizou seu rock para o mundo. Apesar de inicialmente, não ter a pretensão de ser cantor, não se interessava tanto por rock e via na música apenas um meio para canalizar suas aspirações poéticas e artísticas. Estudante de cinema na Universidade da Califórnia (UCLA), adorava poesia e tinha como um de seus ídolos o poeta William Blake. Seus versos "quando as portas da percepção são abertas, o homem vê as coisas como realmente são: infinitas." deram origem ao nome da banda.

As influências de blues do pianista clássico Ray Manzareck e de jazz do guitarrista Robby Krieger e do baterista John Densmore foram misturadas com as letras de Jim, inspiradas em textos de Nietzsche, Blake, Rimbaud, entre outros. Seus temas eram a mitologia do deserto, imagens de entidades e índios misturados a um hedonismo urbano e a procura de uma existência superior. O estilo musical dos Doors era, inovador e, melhor de tudo, erótico.



THE DOORS IN THEIR OWN WORDS
Autor: Doe Andrew e Tobler, John
Editora: Onibus Press

terça-feira, 6 de maio de 2008

JIM MORRISON e as narrativas de Nicholl













Um livro em que para falar de um poeta, é a prosa que flui com facilidade. Numa viagem literária de pouco mais de 460 páginas, o britânico Charles Nicholl usa e abusa de toda a intimidade com relatos históricos, biográficos e de viagem - escreveu nove obras sobre esses temas - para traçar um panorama de um período pouco abordado da vida de um dos maiores gênios literários da língua francesa: o poeta Arthur Rimbaud, pioneiro da poesia moderna e ídolo de Bob Dylan e Jim Morrison, entre tantos outros artistas. Ricamente ilustrado com outros olhares sobre a África, de outros viajantes que em diferentes ocasiões percorreram o Continente Negro e deixaram seu relato, o livro de Nicholl vem ajudar a tapar uma brecha sobre a vida - os chamados “Anos Perdidos” - daquele que em poucos anos de uma produção intelectual precoce e marcante conseguiu seu lugar no panteão dos grandes poetas. Em Rimbaud na África: os últimos anos de um poeta no exílio (1880-1891), o autor inglês encontra os caminhos e, sobretudo, os descaminhos, do jovem rebelde em sua jornada africana.

A narrativa é feita de modo que o leitor é levado a refazer, passo a passo, a trilha do poeta.Misturando suas próprias observações de viagens com farta documentação histórica e literária,leitura de cartas,análise de fotografias antigas e relatos de pessoas que conheceram Rimbaud,o autor nos leva de volta a uma África vibrante do final do século XIX, quando as potências européias retalhavam o continente em sua corrida imperialista por novos territórios. A história do jovem ex-poeta é também um retrato desse período em que ser europeu na África era sinônimo de pertencer a uma casta superior, arauto de uma civilização que se tinha por superior. O livro é fartamente entremeado com versos de Rimbaud (em traduções de Ivo Barroso),que alcançou o status da genialidade nas letras ainda adolescente e aos 25 anos já era um ex-poeta, tendo,portanto,realizado a obra que o imortalizou quando as pessoas ainda mal terminaram seu período de formação e começam a engatinhar em suas carreiras. Nicholl, no entanto, não faz um simples relato do itinerário africano de Rimbaud: o autor, com paciência de um detetive aplicado, a erudição típica dos autores acadêmicos britânicos,que se utilizam de diferentes saberes - história, psicologia, literatura, antropologia... - e um esmero narrativo que revela talento literário, refaz o poeta francês em sua dimensão total. Da infância sem a presença do pai - que primeiro é um notório ausente para depois abandonar de vez a família - à morte também precoce aos 37 anos, lá está toda a vida do jovem gênio, cujas atribulações futuras ele mesmo já prenunciara numa carta a seu professor, aos 15 anos,em 1870: “Estou loucamente determinado a adorar a liberdade livre”. Palavras que antecederam em um século outros revolucionários franceses que em maio de 1968 proclamaram ao mundo seu inconformismo com outros tipos de cerceamento à liberdade.

O autor não se furta em abordar o tema da homossexualidade de Rimbaud, analisada à luz de depoimentos de seus contemporâneos, de sua produção poética, do que disseram seus biógrafos anteriores.A relação conflituosa com o poeta Paul Verlaine é descrita em três capítulos,mas,prudentemente,Nicholl prefere não fazer juízos finais a respeito de seu biografado:
“Sua sexualidade permanece, como tudo mais a seu respeito, indecifrável”.
De Rimbaud na África: os últimos anos de um poeta no exílio (1880-1891) emerge principalmente a imagem de um jovem e um homem sem amarras,que ama acima de tudo a “liberdade livre” de não fincar raízes,de,como dele disse Verlaine, ser um “homem de solas de vento”. Um espírito inquieto que o leva a ser operário em fábricas, peão em fazendas, professor em colégios, soldado do Exército colonial holandês, marinheiro em navio mercante, mercador de caravanas. Para traçar um retrato o mais vivo possível das andanças africanas de Rimbaud, Nicholl fez ele próprio viagens a lugares onde viveu o poeta - ou por onde ele passou - nessa fase final de sua vida, entre 1880 até sua morte em 1891. Daí descortinam-se para o leitor, com um vigor descritivo adquirido a partir de um olhar próprio, o Iêmen,o Djibuti,a Etiópia,o Egito e até a obscura Somalilândia.Por seu alcance,sua profundidade e sua seriedade acadêmica, o livro de Nicholl se credencia a tornar-se citação obrigatória em qualquer obra publicada daqui em diante sobre a vida de Rimbaud. Por sua prosa bem desenvolvida, ele igualmente se credencia a um lugar na estante de qualquer um que goste de uma história bem contada, seja ela de ficção ou baseada, como no caso,na vida real.A dobradinha Nicholl-Rimbaud,biógrafo e biografado,tem os requisitos necessários para entrar na lista dos grandes sucessos de lançamento editorial da temporada.

Charles Nicholl escreveu nove livros, entre ensaios históricos,biografias e literatura de viagens,incluindo os premiados Leonardo Da Vinci - Flights of the mind e The reckoning: the murder of Christopher Marlowe. Apresentou dois documentários na televisão britânica e foi professor na Inglaterra, na Itália e nos Estados Unidos.

Por Carlos Magno Araújocmagno@diariodenatal.com.br


RIMBAUD NA ÁFRICA:OS
ÚLTIMOS ANOS DE UM POETA
NO EXÍLIO
(1880-1891)
Charles Nicholl
Nova Fronteira - 496 páginas
R$ 59,90

Jim Morrison despertou-me o gosto pela Literatura

Nascido em Santo André (SP) em 1976, Tarso de Melo reside em São Bernardo do Campo. É autor dos livros de poesia A lapso (Alpharrabio, 1999), Carbono (Alpharrabio/Nankin, 2002), Planos de fuga (CosacNaify, 2005) e Lugar algum (escrito com apoio da Bolsa Vitae de Artes, 2005, ainda inédito). É autor ainda de História da Literatura em Santo André: um ensaio através do tempo(Fundo de Cultura, 2000). Colaborou na reedição das cartas de Paulo Leminski em Envie meu dicionário (Editora 34, 1999) e na coletânea de ensaios Drummond revisitado (Unimarco, 2002), além de publicar poemas e resenhas em vários periódicos. Editou a revista Monturo e, com Eduardo Sterzi, a revista Cacto. Faz parte atualmente do comitê editorial de K Jornal de Crítica. Coordena o núcleo de leitura de poesia contemporânea Observatório do poema, na livraria Alpharrabio, em Santo André. É advogado, formado pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, e cursa mestrado em Filosofia do Direito na Universidade de São Paulo.

Quais livros fizeram parte de sua formação?TARSO - O livro que inaugurou meu interesse por literatura não foi um livro propriamente literário, mas uma biografia do Jim Morrison, vocalista do The Doors, por causa das muitas referências que eram feitas aos poetas do simbolismo francês. Acho que a imagem que criei deles (Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé) naquele momento, no embalo do livro, era de que se tratava de super-roqueiros! E depois fui encontrar os livros deles. Aí já é possível perceber que a coisa já começou meio torta. E posso garantir que nunca foi menos imprevisível a minha relação com os livros.

O restante da entrevista você poderá ler na integra no excelente blog: http://algaravaria.blogspot.com/2006/07/algaravariaes-11-tarso-de-melo.html

SEIS POEMAS INÉDITOS DO LIVRO

Lugar algum
Paradeironão
é aqui que se encontra
aquele
a quem pertence o exílio:
a casa é feita assim,
ao périplo das portas de aço,
igreja, farmácia,
castelossob
nova direçãoassim
se investiga a
ruaconstrói-se
o roteirocomo ir a lugar
algumnão diz aonde
levaaquela em que
fica um amigo,a outra
por onde outro vaidesapareço
(a poesia não passade uma esquina)
ieladas letras adentro

JIM MORRIOSN - o hedonismo da consquista

Jim deixou-nos algumas canções e outros poemas. Viajou por terras onde nunca alguém havia penetrado e daí extraiu, por magia ou eloquência, o hedonismo da conquista. Violou o que de mais precioso nos pertence – O nosso lado mais secreto com as divindades. Por tal, não merece a redenção. Mas será que alguma vez a procurou? Esta noite não pretende ser uma homenagem a Jim Morrison. Nem tão pouco uma noite de evocação ou prantos. Uma reunião? Talvez… Um reencontro de energias onde o Xamã Álvaro Costa convoca Rui Pedro Silva e exorta os mitos e as lendas de um poeta – Era só isso que Jim queria. Ser um poeta como Kerouac ou Rimbaud. Nada mais… Indiferentes a sua mais ínfima vontade, fizemos de James Douglas Morrison a maior Rock Star de todos os tempos.No final da transmissão, conversa e uma revisita á música dos Doors, com o Dj Lizard Mojo… Noite dentro… Nas penetráveis portas da Casa das Artes.


Texto escrito por ocasião de uma homenagem a JIM MORRISON na Casa das Artes, PORTUGAL.
A CASA DAS ARTES é uma das melhores Casa de Cultura de Portugal e da Europa.
http://casadasartes.blogspot.com/2007_11_01_archive.html

JIM MORRISON, BOB DYLAN e a rapaziada dos dois neurônios


Tem essa não, falou. Papo de “cinqüentão”, estou fora. Maior invenção maledicente desse pessoal do samba. Roqueiro é roqueiro, não tem essa de ficar tirando onda com a idade do cara. Até porque esse lance aí de “juventude” tem suas relatividades. Energia = mc5. Se liga, meu. Quando eu tava em pleno esplendor do meus 16 anos — saradaço, pegando onda, pegando os brotos, estraçalhando geral com a minha Giannini sg vermelha e preta igualzinha à do Angus Young — qualquer um com mais de 25 velinhas no bolo ganhava de imediato o título de cidadão honorário da terra de Matusalém. Já hoje, gozando da vasta sabedoria, experiência e savoir-faire de quem lavrou no currículo 1 300 shows, 6 200 lps, quatro empregos, dois casamentos (e um terceiro à espreita), um casal de filhotes daqueles de deixar a galera do Arpex babando de inveja, sete guitarras, seis pranchas, 58 pontos na cabeça e algumas toneladas de substâncias exóticas devidamente catalogadas, sinto até pena desses guris que têm menos horas de vida que os meus ouvidos de head-phone. Mudei euzinho? Não. Mudou o mundo? Muito menos. Quem mudou foi o calendário. O resto segue igual. Quem vem atrás é pirralho; quem está na frente, coroa. O roqueiro continua ali, reinando soberano no centro do mundo.

Não vou fazer cerimônia, nem usar de falsa modéstia. Fui criado ouvindo The Who e tenho desde pequeno esse hábito desaforado de chamar as coisas pelo nome. Digo o que penso. Quem quiser que goste. Para quem não gostou, aquele abraço. Verdade não tem duas. Pode anotar aí nos seus alfarrábios sertanejos: o roqueiro é antes de tudo um forte. E essa característica — que está na própria essência da condição roqueira — acompanha o cara por toda a vida. Se assuste não. Tem muita filosofia no que eu digo. Sol e som nunca fizeram mal ao cérebro. Experimenta passar trinta anos decifrando Bob Dylan para ver se tu não ganha uma substância. Roqueiro burro nasce morto. Essa rapaziada aí dos dois neurônios, que gosta de Iron Maiden e Sepultura, a gente chama de “os metaleiro” — assim mesmo, no singular presidencial, porque a lindeza do plural majestático ficou reservada para quem já brincava de forte apache ouvindo “Voodoo child”.

A negada mais esperta. Só com muito rock pra agüentar, saca? Led Zeppelin na veia. Jim Morrison no céu, Van Morrison na terra. E os milicos só dificultando… Qualquer coisa que tivesse a ver com rock caía no valão do supérfluo: 10 mil por cento de imposto.



Texto do reporter MARCELO O. DANTAS – Revista Piauí
MARCELO OTÁVIO DANTAS, 43, formado em ciências econômicas pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), escritor, roteirista e diplomata de carreira, é chefe da Divisão de Assuntos Multilaterais Culturais do Ministério das Relações Exteriores e autor "Podecrer!".
http://www.revistapiaui.com.br/artigo.aspx?id=69&pag=1

JIM ESTUDOU FILOSOFIA E PSICOLOGIA DAS MASSAS





O site Ifilm.com disponibilizou, para quem quiser ver, um filme feito em 1964, com um Jim Morrison com cara de moleque, bem antes do estouro dos Doors. Trata-se de um filme promocional de um minuto de duração feito para a Universidade da Flórida. Para ver o filme, clique aqui. Para não deixar a história passar assim, em branco, vamos situar o ano de 1964 na biografia de Jim Morrison. Ele se formou no segundo grau em 1961 e foi mandado para a casa dos avós, na Flórida, e passou a cursar a St. Petersburg Jr. College. Não durou até o ano seguinte, quando, cansado de morar com os avós, Jim pediu transferência para a Universidade da Flórida e centrar seus estudos em teatro. Lá, ele morava numa república de três quatros, mas por seu comportamento intempestivo, seus colegas pediram para que ele arrumasse outro lugar para ficar. Esse tempo que ele passou na Universidade da Flórida foi bem produtivo de certo modo.

Nessa época, ele freqüentou aulas em dois dos cursos que ele mais tarde diria que foram os que mais lhe interessaram em sua curta vida: Filosofia de Protesto(David Hume, Mantaigne, Nietzsche, Michel de Foucault, Rousseau, Emmanuel Mounier, Sartre, Heidegger, Gabriel Marcel, Kierkegaard) e Psicologia de Público. É um absurdo negar o tanto que seu interesse por essas duas matérias fizeram muita diferença em sua carreira posterior, como vocalista dos Doors. Foi nessa época que ele conseguiu seu primeiro papel no teatro, na peça O Monta-Cargas (The Dumbwaiter), de Harold Pinter, mesmo sem nunca ter atuado profissionalmente. Em 1964, porém ele acabou optando pedir transferência para a UCLA, de Los Angeles, na Califórnia. Lá, ele estudaria a semana toda e passaria seus fins de semana largado na praia, chapando e escrevendo poesia. Até o dia em que conheceu um sujeito chamado Ray Manzarek. Daí pra frente, você sabe a história porque é História.

Editor Rockwave

segunda-feira, 5 de maio de 2008

RIMBAUD E JIM MORRISON - cerimonial e desassossego



É triste, mas verdadeiro: a grande maioria das pessoas passa por esta vida imersa na multidão, cumprindo prazos, pagando contas, morrendo de medo do futuro e idealizando um passado remoto que é na maioria das vezes uma montoeira de seqüelas. Outros (poucos, loucos e raros) desafiam, desafinam este coro de contentes descontentes. Jean Arthur Rimbaud no séc XIX e Jim Morrison no séc XX, entre outras almas solitárias e radicais, chegaram na beira do abismo e resolveram experimentar que gosto tinha o pulo.Pagaram caro, a ousadia de queimar em pouco tempo todos os cartuchos. Algumas coincidências, nestes percursos, são fascinantes. Anjos caídos de um inferno particular apontaram para o futuro e tocaram (sem a mínima cerimônia) os atalhos do absoluto.

Wallace Fowlie é atualmente um homem de muita idade. Nascido em 1918 é professor Emérito de Literatura Francesa da cátedra James.B. Duke da Duke University. É autor e tradutor de mais de trinta livros, dentre eles a Obra Completa de Rimbaud vertida para o inglês. Um erudito especializado em Proust, Claudel, Stendhal, Dante etc, e que nunca tinha tido sequer a curiosidade de escutar um disco de Rock'N'Roll até que recebeu uma carta curta que o deixou um tanto surpreendido: "Caro Wallace Fowlie, simplesmente queria agradecer-lhe pela tradução de Rimbaud. Eu precisava porque não leio francês tão facilmente(...) Sou cantor de Rock e seu livro me acompanha nas turnês. Jim Morrison".

No dia seguinte perguntou a seus alunos se alguém ali conhecia este cantor, para ele totalmente anônimo. A turma ficou muda e perplexa com tamanha ignorância. Ele então resolveu checar e arrumou os discos do The Doors para conferir. O fascínio com o radicalismo das letras de Morrison e a idolatria de seus alunos o transformaram em um inesperado admirador e daí em diante um estudioso de mais um poeta, mais um outsider que ao invés de ficar restrito aos livros e ao público leitor de poesia era um popstar de primeira grandeza, um ídolo de multidões ensandecidas que sonhava em ter sua obra literária reconhecida e que assim como Rimbaud dentro de muito pouco tempo ia chegar em um beco sem saída e pular fora (drop out) de tudo.

"O poeta torna-se vidente através de um longo desregramento de todos os sentidos". Isto parece saído da boca de Morrison, mas foi escrito por Rimbaud quase um século antes e estas afinidades estão bem claras no livro lançado agora aqui no Brasil chamado Rimbaud e Jim Morrison, de Wallace Fowlie (Ed Campus -2004), onde o autor faz um paralelo bastante interessante e instigante sobre as coincidências de vida e obra destes dois radicais do espírito. Bem didático e, claro, não traz muitas novidades para quem está acostumado com as duas obras, mas serve como excelente introdução para vôos maiores.Jean-Nicolas Arthur Rimbaud nasceu a 20 de outubro de 1854 em Charleville França e entre os quinze e dezenove anos (quando abandonou a literatura) escreveu uma obra fascinante e revolucionaria, que flertou com todos os abismos possíveis e imagináveis. Precursor do modernismo, surrealismo e influenciador de multidões de escritores posteriores, é hoje o poeta francês mais lido em todo o mundo. Após esta juventude regada a absinto, loucuras variadas, um escandaloso e rumoroso caso com o laureado poeta Verlaine e de freqüentar a nata da intelectualidade Parisiense, resolve abandonar tudo e se isola na África, onde se transforma em traficante de armas e passa a viver de expedientes diversos. Em 10 de novembro de 1891 morre em Marselha em decorrência de um câncer, inteiramente desligado do cenário poético do seu tempo. Henry Miller, mais um destes loucos radicais de seu tempo, também lhe dedicou um pequeno, mas excelente livro - A Hora dos Assassinos - um estudo sobre Rimbaud (L&PM -2004), onde faz um apanhado de sua experiência pessoal à bordo das viagens do enfant terrible do nomadismo da alma. "E dizer que foi um mero garoto que abalou os ouvidos do mundo! A aparição de Rimbaud sobre a terra não tem qualquer coisa de simplesmente milagrosa, como o despertar de Gautama ou a aceitação da cruz por Cristo ou a incrível libertação de Joana DArc? Interprete-se a sua obra como se preferir, explique-se a sua vida como se quiser, a verdade é que não há como lhe reduzir a importância. O futuro, mesmo que não exista, lhe pertence".

Pois Jim Morrison, a exemplo de Rimbaud, também é uma lenda maior do que si mesmo e foi leitor voraz de toda sua obra, assim como desta pequena jóia escrita por Henry Miller. Como não imaginar o fascínio que o radicalismo e principalmente o exílio de Rimbaud traziam a Morrison? Muitos de seus fãs mais exaltados crêem com convicção que o Rei Lagarto ainda está vivo em alguma África distante livre do desespero da disponibilidade de se pôr à beira do abismo, dos transtornos da criatividade e do desregramento de todos os sentidos. As portas da percepção quando abertas podem se tornar insuportáveis e os analgésicos para isto podem incluir as drogas ou simplesmente o abandono, seja dos atalhos escritos e descritos ou mesmo da vida, do inferno em que se meteu. Como diz Fowlie: "Rimbaud usou a palavra inferno em sentido Teológico. Ele só queria passar uma temporada ali, porque sabia que no inferno não se tem energia para nenhuma mudança positiva. Jim Morrison entenderia o significado da palavra inferno, muito embora não a tenha usado. Ele foi um exemplo deste dom de mudança que os jovens possuem. E possuem também um olhar mais aguçado do que o dos mais velhos para o que se encontra apodrecido na sociedade e, por isso, sentem a urgência de purifica-la atacando a chaga da apatia, que impede as mudanças e o desenvolvimento de uma personalidade mais sã".

Conheci o The Doors no final dos anos 70, época em que estavam praticamente esquecidos. Era relativamente pouco comum encontrar um disco deles e mais raro ainda quem gostasse. Fiquei bastante impressionado, mas entendi muito pouco o que aquilo tudo representava. Era mais uma banda de rock onde o cantor havia morrido de overdose e só. Com o passar do tempo e os interesses se modificando, me caiu nas mãos uma tradução de Uma temporada no Inferno, Iluminações e do Barco Bêbado de Rimbaud. O impacto destas leituras foi imediato e aquelas imagens um tanto desconexas e dilaceradas foram ficando como se fossem uma tatuagem interna. O fascínio de saber que aquilo tudo tinha sido produzido por um moleque um pouco mais novo do que eu e que havia abandonado tudo me intrigava como me fascina até hoje.Os anos 80 foram pródigos para o culto ao mito Jim Morrison. O renascimento da literatura beat, a inclusão na trilha sonora do Apocalipse Now de Coppola e a regravação de suas músicas por ídolos da época como Billy Idol e Echo & The Bunnymen foram como um rastilho de pólvora e um fósforo. Ao perceber as influências de Niezstche, Huxley, Blake, etc, e principalmente ao conhecer seus poemas no disco póstumo An American Prayer me tornei um fã exaltado. Em pouco tempo estavam disponíveis e relançados todos seus discos e inúmeros livros, biografias e a tradução de seus poemas. O filme de Oliver Stone só fez expandir esta idolatria pelos quatro cantos do mundo. As romarias a seu túmulo no Pere-Lachaise demonstram isso. Seus discos vendem bastante ainda. Jim Morrison e suas calças de couro se transformaram em um ícone da rebeldia juvenil, assim como os pôsteres de Lennon, Guevara, James Dean e Marilyn Monroe. Uma bela estampa para camiseta. Vejam só a ironia terrível do destino. O cordeiro que se imolou em busca do mel escondido atrás do arco íris, que se jogou de frente contra todos os mercantilismos, se tornou depois de morto uma mercadoria altamente rentável.
Cadáver insepulto, seja pelos chamados da galera que joga vinho e baseados em sua última morada como no renascimento da banda (cover de si mesma) que Manzarek e Krieger resolveram montar com Ian Astbury emulando uma espécie de fantasma da ópera. Sei que passaram por aqui, mas resolvi não conferir, creio que fosse me decepcionar.

Rimbaud foi para Morrison uma imagem, uma meta recorrente, talvez Paris tenha sido a sua África, um porto distante, o preparo para um salto que o faria sair da obra e cair na vida. Parece que não deu tempo."O tédio não é mais meu amor. O furor, a devassidão, a loucura, dos que conheço todos os impulsos e calamidades - Todo meu fardo foi arriado. Apreciemos sem vertigens a extensão de minha inocência".Rimbaud"Já não temos dançarinos, os possessos.A clivagem dos homens em atores e espectadoresÉ o fato crucial do nosso tempo. Obcecam-nosHeróis que por nós vivem e nós punimos.Ah! Se todas as rádios e televisões fossemDesligadas, e todos os livros e quadrosQueimados já, todas as salas de espetáculos encerradas...Essas artes de viver por procuração...Contentamo-nos com a oferta, na nossa procura deSensações.Deu-se a metamorfose do corpo enlouquecidoPela dança nas colinas num par de olhosRasgando a treva.Jim MorrisonPara nós o que sobra? Algumas trilhas e um par de enigmas. Quantos caminhos nos levam para a África de cada um ou para o frio de amanhecer dentro de uma banheira em Paris?Se a "punição" é seguir em frente, alguns abandonaram, pela intensidade, no meio. Queimaram rápido demais e as cinzas continuam no ar. Apontando onde seguir.Como já disse, os ardores do futuro antevisto são para loucos, poucos e porque não... raros.

Texto do poeta e músico CLAUDIO VIGO

MORRISON, RAUL E BON DYLAN - Músicos Poetas ou Poetas Músicos?

Musicas de boa qualidade sempre têm, além de uma grande melodia e uma ótima letra, e bandas e ou musicistas de boa qualidade, as compõe. Quantas letras lindas já deparam-nos, e percebemos desde o começo, ser um grande trabalho. Uma poesia musical.

Agora a dúvida. Músicos podem ser poetas? e poetas, podem ser músicos? Sem sombra de dúvida a primeira questão esta respondida. Grandes músicos podem ser sim grandes poetas, e tenho provas.Compositores famosos como Raul Seixas, Bob Dylan e Jim Morrison são alguns deles. Os maiores, sendo mais claro.

Pensava esta semana sobre qual tema iria registrar e mais uma vez vários “sinais” apareceram. Não, Jim Morrison não apareceu para mim, risos. Mas como gosto muito de poesia e rock n´roll, resolvi juntar os dois e escrever uma matéria. Não fui apenas à única a “ligar” duas obras de arte como poesia e musica, mas muitos famosos também.

Jim Morrison era um homem com personalidade forte, além disso, muito enigmático, culto e inteligente. Explosivo e exagerado ás vezes, mas com um grande dom de lidar com as palavras e com a voz. Suas apresentações eram teatrais, seu corpo fazia movimentos aleatórios e diferentes. Essas características são de um grande poeta e gênio musical. E com essas características principais para ser um poeta musical, Raul também tinha o mesmo gênio. Claro, com algumas alterações, mas sempre com a mesma personalidade, Difícil!Muitos poetas podem ser músicos também. Um exemplo é o próprio Jim Morrison que já escrevia em seus cadernos várias poesias e pensamentos conturbadores, de amor, ocultismo entre outros. Nada como o próprio Jim explicar: "Inicialmente eu não tinha a intenção de fazer parte de uma banda. Queria fazer filmes, escrever peças, livros. Quando me vi numa banda, quis trazer algumas dessas idéias dentro disso".

Jim Morrison, sempre interessado pelo desconhecido, oculto, escreveu poemas bastante confusos e ao mesmo tempo profundos.Obcecado pela morte, o tema era sempre tratado em suas letras, principalmente em “The End”, uma grande referência para observar melhor estes detalhes é só assistir o filme de Oliver Stone, intitulado The Doors (um dos melhores filmes que já assisti). Outra passagem interessante é onde Morrison descreve sobre a morte: “A primeira vez que descobri a morte… Eu, os meus pais e os meus avós, íamos de automóvel no meio do deserto ao amanhecer. Um caminhão carregado de índios, tinha chocado com outra viatura e havia índios espalhados por toda a auto-estrada sangrando. Eu era apenas um miúdo e fui obrigado a ficar dentro do automóvel enquanto os meus pais foram ver o que se passava. Não consegui ver nada – para mim era apenas tinta vermelha esquisita e pessoas deitadas no chão, mas sentia que alguma coisa se tinha passado, porque conseguia perceber a vibração das pessoas à minha volta, então de repente apercebi-me que elas não sabiam mais do que sobre o que tinha acontecido. Esta foi a primeira vez que senti medo... e eu penso que nessa altura as almas daqueles índios mortos – talvez de um ou dois deles – andavam a correr e aos pulos e vieram parar à minha alma, e eu apenas como uma esponja, ali sentado a absorvê-las”.


texto de RAFELA MACHADO

domingo, 4 de maio de 2008

JIM MORRISON - o poeta da estética existencial



"Eu sou aquele que, para ser, deve fustigar o que me é inato", escreveu o escritor francês Antonin Artaud sobre a tarefa do artista moderno de penetrar dolorosamente nas camadas mais profundas de sua subjetividade, libertando-se das determinações exteriores e fazendo do próprio corpo um altar em que o espírito - no que este tem de abstrato e pretensamente universal - é imolado em benefício de uma escritura incandescente e intransferível. O autor de O teatro e seu duplo formulava assim uma das palavras de ordem de um projeto que remontava às aspirações ao sublime dos românticos (Schiller, Blake, Wordsworth, Keats), às epifanias grotescas de Baudelaire e às estadias infernais de Rimbaud, desembocando no credo libertário dos surrealistas e, mais tarde, na anarquia alucinógena da geração beat.

Por seu vigor e longevidade, esse programa estético-existencial estaria destinado a resistir até mesmo a um mundo dominado pelas formas mais sutis de alienação e determinação: o mundo da indústria cultural e de sua "dessublimação repressiva", segundo a expressão cunhada por Marcuse para designar essa engrenagem perversa em que o gozo passa a ser melhor controlado e docilizado na medida em que é intensificado por uma mercantilização que esteriliza seu fluxo outrora desordenado, caótico e, por isso mesmo, subversivo.

Obviamente, os mártires dessa resistência teriam de ser aqueles artistas que conseguiram estar no centro da civilização do espetáculo, utilizando os instrumentos da comunicação de massa para inocular, no coração daquilo que nos aliena, uma esperança de transcendência - ao preço da própria lucidez e da própria vida. E, dentre esses artistas, nenhum outro encarnou melhor o mito trágico do herói da contra-cultura do que Jim Morrisom, o poeta, compositor e líder da banda de The Doors, que morreu em Paris há trinta e cinco anos, no dia 3 de julho de 1971.

O roqueiro que incendiou a cena pop dos anos 60 foi a personagem arquetípica de uma geração que reagiu violentamente ao clima asfixiante da sociedade norte-americana do auge da guerra fria e que buscou na literatura, no cinema, na música e nas drogas uma experiência de ultrapassamento, de rejeição do senso comum da classe média. Filho de um oficial da marinha, James Douglas Morrison nasceu em 8 de dezembro de 1943, em Melbourne (Flórida), mas fixou-se na Califórnia depois de vários anos de peregrinação da família por diversas cidades dos Estados Unidos. Contra a vontade do pai, com quem sempre manteve um relacionamento tenso (a ponto de declarar em entrevistas que era órfão, embora o capitão Steve tenha sobrevivido ao filho), Jim cursou a Escola de cinema da Universidade da Califórnia (UCLA), onde conheceu Francis Ford Coppola - que muitos anos depois, ao dirigir Apocalypse Now (1979), prestaria uma homenagem amigo, incluindo na trilha sonora do filme a canção "The end", clássico dos Doors, que foi uma espécie de metáfora musical do inferno da Guerra do Vietnã transposto pela tela pelo cineasta de O poderoso chefão.

No Natal de 1964, Morrison viu os pais pela última vez, pouco antes de o capitão Steve se mudar com sua mãe para Londres, onde serviu nas Forças Navais dos EUA na Europa. Em 1965, Jirn abandonou a UCLA depois da recusa, pelos organizadores de uma mostra destinada a avaliar o trabalho dos estudantes, de um filme experimental que ele havia produzido.

A ruptura radical com o passado, no entanto, deu lugar a laços muito mais viscerais. Na Escola de Cinema, ele conhecera Ray Manzarek, com quem passou a conviver em Venice Beach - pequena cidade litorânea perto de Los Angeles habitada por artistas movidos a LSD e que começavam a lançar as bases das comunidades hippies. Morrison mostrou alguns de seus poemas a Manzarek (que era tecladista da banda Rick and the Ravens) e logo surgiu a idéia de formar um conjunto, ao qual se juntariam o guitarrista Robby Krieger e o baterista John Densmore.

Iniciava-se então a vertiginosa trajetória da banda The Doors, com apresentações no clube "Whiskey a Go Go", de Los Angeles, em que Morrison aparecia no palco como uma espécie de xamã entoando as letras de "Moonlight drive" e "Break on through", músicas que soavam como uma convocação para novos estados de consciência e percepção. Não era outra, aliás, a inspiração para o nome do grupo - uma referência explícita ao livro As portas da perceção, de Aldous Huxley, o aristocrático profeta das experiências com drogas, que por sua vez havia retirado esse título de uma célebre frase do poeta William Blake: If the doors of perception were deansed every thing would appear to mais as it is, infinite ("Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo se mostraria ao homem tal como é, infinito", segundo a tradução de José Arantes em O matrimônio do céu e do inferno, editora Iluminuras).

Obstinado na idéia de Blake segundo a qual "a estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria", Jim Morrison imprimiu à curta história dos Doors as colorações de uma viagem de purificação. Purificação que equivalia, objetivamente, ao transe provocado pelo ácido lisérgico, à ostentação pública de uma sexualidade transgressiva e à conspurcação de todos os valores de uma sociedade que enclausura os sentidos e encarcera os praticantes de rituais pagãos. Entre Light my fire (single que ficou 40 semanas na lista dos discos mais vendidos dos EUA em 1967) e L. A. woman (álbum de 1971 que também atingiu o topo da parada), Jim Morrison seria detido duas vezes pela polícia norte-americana por causa de sua conduta no palco. Em 1967, durante um concerto em New Haven, foi preso por inicitar o público contra as autoridades depois de denunciar que havia sido agredido nos bastidores do show por um policial que o flagrara com uma fã. Posteriormente, em 1969, Morrison foi indiciado por conduta indecente num concerto em Miami em que se apresentara bebado, simulando atos sexuais e (segundo o jargão policial) assumindo uma postura "indecente e profana".

Esse comportamento também se estendia a seu relacionamento com Pamela Courson, verdadeiro "matrimônio do céu e do inferno" que durou até sua morte - sendo interrompido mais seriamente apenas pelo affair que Morrison manteve com Patricia Kennealy, editora da revista Jazz and Pop que ele conheceu em 1969 (durante entrevista no Plaza Hotel de New York City) e com quem se "casaria" num ritual pagão (Patrícia se dizia adepta da bruxaria e até hoje reivindica a validade da cerimônia e o título de Mrs. Morrison).

Em março de 1971, pouco depois de terminar a gravação do álbum L. A. woman, Morrison decidiu romper temporariamente sua parceria com os Doors e se mudou para Paris. Foi um breve período de renascimento de Jim. No último ano, ele havia engordado exageradamente, deixara crescer uma barba que lhe dava a aparência de um guru underground, vivia entre crises de alcoolismo e o consumo exagerado de cocaína: era como se quisesse sepultar em praça pública sua imagem de deus do rock, aquela aura mercantil de sex symbol eternizada em sua beleza diabólica pela lente de Joel Brodsky.

Ao viajar para a França, porém, ele parecia haver recuperado o frescor dos primeiros anos. Rosto escanhoado, mais magro, Jim Morrison queria voltar à fonte de seus primeiros poemas (Baudelaire, Rimbaud, Céline) e ser reconhecido como escritor. Mas seu idílio na rive gauche durou pouco. Na noite de 2 de julho, após ir ao cinema, Jim voltou com Pamela para seu apartamento e deitou-se. Queixando-se de dores no peito, levantou da cama e decidiu tomar um banho. Na manhã do dia seguinte, Pamela encontrou Jim Morrison morto na banheira de seu apartamento parisiense. Até hoje não se sabe se ele morreu de um ataque cardíaco provocado por anos de excesso ou se tomou uma overdose (especula-se que ele teria confundido heroína com cocaína). O fato é que a morte de Jim Morrison parecia confirmar o destino trágico dos ícones da contracultura. No ano anterior, o guitarrista Jimi Hendrix e a cantora Janis Joplin haviam morrido em circunstâncias semelhantes. Ambos tinham a mesma idade que Morrison: 27 anos.


Tais coincidências acabaram por reforçar o apelo mítico desses jovens que vivem intensamente e agonizam precocemente (trilha perseguida por Pamela, que morreria de overdose de heroína em seu apartamento em Hollywood, no dia 25 de abril de 1974). Sepultado no cemitério Pêre Lachaise, em Paris, o túmulo de Jim Morrison é até hoje um lugar de peregrinação para fãs, o mais visitado de uma necrópole que abriga ilustres representantes da alta cultura como Molière, Balzac, Chopin, Oscar Wilde e Marcel Proust.

Diante desses curiosidades jornalísticas, é muito difícil avaliar o lugar exato de Morrison na cultura contemporânea. Ele seria apenas uma vítima talentosa da indústria do estrelato ou um poeta genial escondido sob a pele do astro do rock? O autor de canções datadas da geração Woodstock (festival do qual, alias, os Doors não participaram) ou um performer cuja radiante beleza era mais um elemento nas celebrações dionisíacas que fizeram da banda o emblema de uma renovação espiritual (logo sepultada pela era de conformismo político e de anódino ecletismo estético que perdura até nossos dias)?

Os adeptos de uma valorização propriamente literária de Morrison têm procurado traçar paralelos entre suas letras e poemas e a obra de alguns escritores - tarefa facilitada pelo próprio compositor, que deixou várias indicações de suas preferências poéticas. O caso mais óbvio é Blake, cujos ecos se fazem sentir nos versos There are things known / And there are things unknown / And in between are the doors - espécie de palavra de ordem que justifica a filiação da banda ao romantismo visionário do poeta inglês. Outro caso explícito de citação são os versos da canção "End of the night" ( Take the highway to the end of the night / take a journey to the bright midnight / Realms of bliss / Realms of light / Some are born to sweet delight / Some are born to the endless night ), que remetem à leitura que o jovem Jim Morrison fez do romance Viagem ao fim da noite, de Louis-Ferdinand Céline (escritor francês que encontrou na mais profunda abjeção humana uma forma de iluminação, de reconhecimento das sórdidas verdades que habitam nosso bas fond existencial).

Aliás, é possível detectar na curta trajetória de Morrison uma linha direta entre suas leituras de juventude e as letras que ele cantava no auge do sucesso dos Doors. Não me refiro apenas às leituras dos beatniks Ferlinghetti, Kerouac ou Corso, que foram seu catecismo da rebeldia, mas sobretudo àqueles escritores que fizeram da própria figura do poeta um ideal de conduta desviante, encarnando no corpo e na escrita um mundo de possíveis em meio às frias impossibilidades desse mundo. Se "o poeta é o sacerdote do invisível", como escreveu Wallave Stevens (cito o verso a partir do livro Daqui ninguém sai vivo, biografia de Morrison escrita por Jerry Hopkins e Danny Sugerman e da qual retirei a maior parte das informações deste texto), Morrison quis ser o oficiante de sua própria invisibilidade, de sua desaparição, da lenta subversão de sua alma no "Palácio do exílio" (poema magistralmente recitado por ele na seção "The celebration of the lizard", do disco In concert - que de certa forma recapitula seu mergulho no abismo dos paraísos artificiais e seu posterior retorno à noite primitiva de uma sabedoria aberta ao encanto dos acontecimentos).

Essa proximidade entre Morrison e poetas malditos como Baudelaire e Dylan Thomas foi retomada recentemente num estudo de Wallace Fowlie, professor de literatura francesa que no livro Rimbaud and Jim Morrison: The rebel as poet (Duke University Press) estabelece paralelos biográficos entre o rebelde poeta francês que deixou de escrever aos 20 anos e o pop star cuja obra poética foi interrompida aos 27. Entretanto, uma simples leitura de Os mestres ou de As criaturas novas mostra que a poesia aforística de Morrison atinge alguns poucos momentos de intensidade e originalidade. A verdadeira poesia de Morrison está em letras de músicas como "Not to touch the earth" ou "The end". Ou, melhor ainda, a poesia de Morrison se torna absolutamente irresistível quando vem associada a sua voz, ao mesmo tempo vigorosa e cansada, sensual e indiferente, em gravações que são verdadeiros festins apocalípticos do Rei Lagarto (uma das imagens recorrentes de seu xamanismo).

Pois se o poeta Jim Morrison foi apenas um epígono sedutor de Blake, Rimbaud e Dylan Thomas, o cantor Jim Morrison, em compensação, foi bem além do glamour da cena pop. Como líder da banda The Doors, ele conseguiu expor seus dilaceramentos, os nossos dilaceramentos, a defasagem entre a altitude de nossos sonhos, a opacidade de um mundo que exige que sonhemos e a crueldade com que esse mundo manipula aqueles sonhos, obrigando-nos a percorrer a estrada da dissolução, a penetrar na terra da catástrofe - para ensinamento dos homens. Nesse sentido, a obra de Jim Morrison possui a teatralidade absoluta exigida por Artaud: ela é o conjunto formado pela aspiração ao sublime e pelas consequências sofridas pelo corpo e pela mente de quem ousou materializar essa idéia de transcendência. E, por isso, a melhor obra poética de Jim Morrison foi sua vida.


LIVROS SOBRE JIM MORRISON E THE DOORS A bibliografia sobre Morrison e The Doors é gigantesca e pode ser conferida no site oficial da banda ( www.thedoors.com ), que traz ainda um rico conjunto de dados biográficos e fotos dos quatro integrantes do grupo. Em português, essa bibliografia ainda é escassa, mas inclui três títulos fundamentais:
· Daqui ninguém sai vivo, biografia de Morrison escrita por Jerry Hopkins e Danny Sugerman;
· Os mestres e As criaturas novas (reunião num único volume de dois livros de poemas de Jum Morrison);


· Uma oração americana, também com poemas do pop star. Os três livros foram publicados pele editora portuguesa Assírio e Alvim e podem ser encomendados à Livraria Portugal (r. Genebra, 165, São Paulo - tel: (11) 3673.8406. Dentre os livros em inglês, três títulos são obrigatórios:
· The Doors - The Ilustrated History, de Danny Sugerman (ed. William Morrow & Co.), belíssima edição com fotos e matérias de jornal que acompanham a trajetória da banda (com destaque para a célebre sessão de fotografias de Morrison realizada por Joel Brodsky);
· The american night, com textos de Jim Morrison (Villard Books);
· The Doors - The complete lyrics (Delta Book), contendo todas as letras da banda.


Textos: Manuel da Costa Pinto
Fotos: Paul Ferrara
Revista Cult 48

OS TRÊS POETAS - VILLON, RIMBAUD E JIM MORRISON


"Ele (Rimbaud)se tornou o poeta da juventude, assim como Jim Morrison se tornou o poeta-cantor dos jovens. A sede de liberdade, de aventura e de auto-expressão desses dois homens atrai os jovens e quem quer que se encontre sequioso de liberdade e de novos começos.
A geração de jovens que aderiu a contracultura nos anos 60 escolheu Jim como sua grande estrela. Eles acompanharam os passos do The Doors. Conheceram sua história desde 1966, quando Jim cantou “Moonlight Drive” para Ray Manzareck na praia de Venice, até o lançamento do primeiro álbum, The Doors, em 1967. As críticas desse álbum derramaram epítetos sobre o superastro: “xamã sexual”, “Dioniso praieiro”, “Adônis hippie”. A contracultura foi uma forma de radicalismo que rejeitava os valores da classe média americana, abraçando um novo hedonismo (doutrina que considera o prazer individual e imediato como o sentido maior) que incluía sexo, drogas e rock and roll.

Hoje, os jovens podem ver a contracultura sob uma perspectiva histórica. Eles se sentem menos reprimidos pelo aspecto imoral relacionado ao sexo e às drogas, e se lembram das declarações de fundo crítico feitas por Jim Morrison a respeito do artista: “Vejo o papel do artista como o de um xamã ou bode expiatório. As pessoas projetam suas fantasias nele e estas se materializam” Hoje eles percebem que Jim foi ao mesmo tempo culto e primal, de uma vitalidade primitiva que mesclou o rock a uma rica bagagem literária.
'
Esses três poetas voyou – Villon, Rimbaud e Jim Morrison – deram voz à postura de rejeição e desprezo da juventude, tipicamente dramática e emotiva. Cada um, com sua terminologia própria e conforme a sua idade, se deu conta do grande mistério que é a alma humana, e procurou em vão encontrar uma ciência adequada para explicá-la. Será isso o tradicional pessimismo dos jovens? Eu prefiro considerá-lo a convicção de que nada no mundo é por inteiro, nem possui beleza absoluta. Está tudo contaminado, em confusão, conspurcado e fragmentado. Eles descobriram que uma verdade pura e simples é algo tão implausível que a maioria das pessoas intintivamente acrescenta um pouco de ilusão.”


Rimbaud e Jim Morrison – do livro de Wallace Fowlie.
Livro de Wallace Fowlie, lançado aqui no Brasil pela Editora Campus. As pesquisas históricas e literárias feitas por este autor são extremamenteinteressantes... Quem tiver a oportunidade, leia!

Jim Morrison: culto, inteligente e letrado


Os aplausos foram generalizados e quando os casacos já estavam sendo colocados para rumar para o Pere Lachaise nos juntando à malucada no interminável plantão local, me deu um misto de senso prático com cagaço de pular muro de cemitério e convenci a todos que melhor que isso seria comprar mais e continuar bebendo em sua homenagem. A idéia foi aceita com entusiasmo e eu fiquei com uma ressaca maior e com o arrependimento de não ter prestado esta homenagem a um dos maiores mitos do rock de todos os tempos.

Sempre tive aquele famoso recalque do "tenho que fazer tudo até os 27". Orson Welles acabou Cidadão Kane com 26, Jimi, Janis e Jim Morrison morreram com exatos vinte e sete anos depois de mudar tanta coisa - eu já estava com trinta e nem muro de cemitério francês eu tinha coragem de pular. Uma coisa muito frustrante foi o dia seguinte. Ainda bem que o champagne era "nacional" o que amenizou o sofrimento.

James Douglas Morrison nasceu em 8 de dezembro de 1943. Se a lenda procede tem 57 anos e deve morar em Saquarema disfarçado de pescador, vizinho de Serguei, pois tem gente que afirma que assim como Elvis e ao contrário de Paul McCartney, Morrison não morreu e prova isto com um monte de dados como o fato de ninguém ter visto seu corpo, umas confusões no atestado de óbito e mais uma meia dúzia de teorias da conspiração ideais para animar conversa de sábado chuvoso junto com a teoria da terra oca e a brincadeira do copo.
Independente de tudo isso, possivelmente Jim Morrison foi o maior poeta do rock. Extremamente culto e preparado, mesclava em suas leituras tanto a literatura beat em quase sua totalidade (Kerouac, Ginsberg etc) com clássicos como Plutarco e James Joyce, entremeados de muito Nietzsche, Huxley, Mallarmé e ainda tinha como brincadeira preferida ficar com os olhos vendados em seu quarto com as paredes forradas de estantes abarrotadas, enquanto um amigo escolhia um livro e lia um trecho que invariavelmente era adivinhado.

Fez cinema (foi colega de turma de Francis Ford Coppola) e se preparava para ser uma espécie de Rimbaud beatnik quando conheceu Ray Manzarek e o rock bateu a sua porta. O resto é história exaustivamente contada e mitificada, seja em inúmeros livros ou no filme do alucinado mais careta de todos os tempos: Oliver Stone.

Em meio a discos históricos e definitivos (acho Strange Days uma obra prima) foi queimando todos seus cartuchos no excesso de drogas e intensidade e após o ápice de uma carreira de mais altos do que baixos, resolveu dar uma parada estratégica e cuidar de sua poesia na gravação de American Prayer onde declamava seus belos poemas entremeados por uns climas feitos bela banda. Eu tinha esse bolachão em vinil e ouvia sem parar enquanto lia seus dois livros: The Lords e The New Creatures.

A temporada de Jim Morrison em Paris foi um pé na jaca generalizado, tem um livro de um amigo dele que conviveu na época que diz que o café da manhã era uma garrafa de Chivas e que lá pelo almoço não estava mais falando lé com creuza. Observando esta rotina dá pra imaginar que não dava para durar muito mesmo. A tormenta interior natural dos grandes criadores mais a idolatria do Star sistem levaram embora este poeta genial, que nasceu neste tempo em que a mídia precisa de mártires da intensidade pra oferecer em holocausto aos cordeiros produtivos .




Texto do Engenheiro, poeta e ensaista CLAUDIO VIGO

Jim Morrison - Contigo Torno-me Real

O anúncio dos vencedores foi feito no passado dia 10, mas a entrega dos prémios acontecerá na quarta-feira em Londres, tendo o livro de Rui Pedro Silva recebido uma menção honrosa na área de não-ficção.

"Contigo torno-me real" foi editado em Portugal em 2003 pela editora Afrontamento como uma obra sobre o culto a Jim Morrison, vocalista do grupo norte-americano Doors, falecido em 1971 aos 27 anos.

Em Março deste ano, Rui Pedro Silva reeditou uma segunda versão desta obra, contando não só a história de Jim Morrison, mas também dos Doors, enriquecendo-a com mais testemunhos e documentos inéditos, ultrapassando agora as 500 páginas.

Esta versão alargada de "Contigo torno-me real" é que foi distinguida pelo Festival do Livro de Londres e tem já garantida edição em língua inglesa nos Estados Unidos no primeiro trimestre de 2009, disse Rui Pedro Silva.

"Deste ponto de vista acho que o livro é único no mundo, porque reúne depoimentos inéditos", sublinhou Rui Pedro Silva.

Apesar de ser admirador dos Doors - "já faz parte do meu ADN" -, Rui Pedro Silva disse que este livro não foi feito na perspectiva de um fã, mas com um sentido factual, "com um forte sentido de jornalismo de investigação".

"Os Doors foram uma banda muito completa. Não era só a música, havia também o cinema, a forte influência literária, de Rimbaud, de William Blake, da Beat Generation, e pouca gente sabe disso. A morte prematura de Jim Morrison fez com que se falasse apenas dos excessos dele", disse.

Com os mitos, já se sabe, a história nunca é definitiva. É isso, aliás, o que os alimenta: o que se conta, descobre e especula depois se fundarem como tal. Jim Morrison, vocalista dos Doors, xamã rock'n'roll com poesia de Rimbaud debaixo do braço, morreu em 1971 aos 27 anos e, ainda o corpo não tinha arrefecido e enrijecido na banheira de um apartamento parisiense, já tinha ganho tal dimensão.

Nenhuma outra banda foi mais longe e mais fundo que osDOORS e ninguém como JIM MORRISON assumiu na música e nas letras a dimensão poética que podemos fazer corresponder ao "sentir tudo de todas as maneiras" de Fernando Pessoa.

JIM MORRISON como Prometeu

Poeta, pensador, escritor... Alguém que fez sua própria história; alguém que sabia que a vida é uma experiência a ser construida, lapidada, transformada; alguém que sabia que estava só, desde aquele mitico dia, quando Prometeu lhe deu o fogo roubado dos deuses. A partir dali, sabemos, estamos todos sós, sem desculpas, para construir, dar sentido a própria vida. Ele soube honrar essa herança trágica. Só os covardes morrem de inanição do espírito. Enfim, um homem singular. Habita agora o Parnaso.


Ana Maria Welt

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