(...)São nessas viagens lisérgicas, no entanto, que o filme se perde. As imagens assumem aspecto psicodélico com o som de poemas ao fundo, declamados pelo narrador. A película de 140 minutos seria mais bem aproveitada se momentos longos como esses ficassem restritos à sala de edição. O grande problema do filme, porém, é a visão superficial que faz dos personagens. O mundo de Jim carece de profundidade. A relação dele com os pais – ele mentia dizendo que estavam mortos – é levemente sugerida. O roteiro, inconsistente, não nos ajuda a compreender a perso-nalidade mutável e violenta do cantor. Morrison exalta a morte, desejando-a. Mas por quê? O que o levou a ser assim?
A resposta pode surgir depois, quando o espectador curioso vai buscar informações extras. A questão é que o roteiro trata os personagens de forma caricatural sem retomar conceitos que o próprio script propõe, como a questão dos mitos. Jim é constantemente levado a acreditar – por fãs, empresários e pelas circunstâncias – que ele é a banda, que sem ele os Doors não seriam nada nem venderiam discos. Nas capas dos álbuns, ele é o rosto do grupo. Ego e vaidade não explorados pelo filme. “Somos nós quem criamos o mito, Jim”, alguém fala no meio da projeção.
Entre uma tragada de whisky e outra, Jim Morrison surge como o sujeito que fala, grita, berra a uma sociedade de conformados: “Vocês são escravos!”. A mudança de personalidade dele do início ao fim da carreira é meramente pincelada. No entanto, a falta de conteúdo é preenchida por música.
Praticamente todas as seqüências são ilustradas por canções. As falhas, porém, não desmerecem a atuação central. Val Kilmer dá vida a Morrison. É dos mais bem sucedidos exemplos de atores interpretando uma personalidade. Aparências físicas e atitudes extravagantes, olhar vago e o jeito de cantar e se movimentar no palco; a coleção de gestos. As escolhas de Kilmer não poderiam ser melhores. Jim está vivo, ainda que o roteiro e a direção deixem a desejar. “Come on, baby, and light my fire!
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