Livro - Jim Morrison: o poeta-xamã

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terça-feira, 6 de maio de 2008

JIM MORRISON e as narrativas de Nicholl













Um livro em que para falar de um poeta, é a prosa que flui com facilidade. Numa viagem literária de pouco mais de 460 páginas, o britânico Charles Nicholl usa e abusa de toda a intimidade com relatos históricos, biográficos e de viagem - escreveu nove obras sobre esses temas - para traçar um panorama de um período pouco abordado da vida de um dos maiores gênios literários da língua francesa: o poeta Arthur Rimbaud, pioneiro da poesia moderna e ídolo de Bob Dylan e Jim Morrison, entre tantos outros artistas. Ricamente ilustrado com outros olhares sobre a África, de outros viajantes que em diferentes ocasiões percorreram o Continente Negro e deixaram seu relato, o livro de Nicholl vem ajudar a tapar uma brecha sobre a vida - os chamados “Anos Perdidos” - daquele que em poucos anos de uma produção intelectual precoce e marcante conseguiu seu lugar no panteão dos grandes poetas. Em Rimbaud na África: os últimos anos de um poeta no exílio (1880-1891), o autor inglês encontra os caminhos e, sobretudo, os descaminhos, do jovem rebelde em sua jornada africana.

A narrativa é feita de modo que o leitor é levado a refazer, passo a passo, a trilha do poeta.Misturando suas próprias observações de viagens com farta documentação histórica e literária,leitura de cartas,análise de fotografias antigas e relatos de pessoas que conheceram Rimbaud,o autor nos leva de volta a uma África vibrante do final do século XIX, quando as potências européias retalhavam o continente em sua corrida imperialista por novos territórios. A história do jovem ex-poeta é também um retrato desse período em que ser europeu na África era sinônimo de pertencer a uma casta superior, arauto de uma civilização que se tinha por superior. O livro é fartamente entremeado com versos de Rimbaud (em traduções de Ivo Barroso),que alcançou o status da genialidade nas letras ainda adolescente e aos 25 anos já era um ex-poeta, tendo,portanto,realizado a obra que o imortalizou quando as pessoas ainda mal terminaram seu período de formação e começam a engatinhar em suas carreiras. Nicholl, no entanto, não faz um simples relato do itinerário africano de Rimbaud: o autor, com paciência de um detetive aplicado, a erudição típica dos autores acadêmicos britânicos,que se utilizam de diferentes saberes - história, psicologia, literatura, antropologia... - e um esmero narrativo que revela talento literário, refaz o poeta francês em sua dimensão total. Da infância sem a presença do pai - que primeiro é um notório ausente para depois abandonar de vez a família - à morte também precoce aos 37 anos, lá está toda a vida do jovem gênio, cujas atribulações futuras ele mesmo já prenunciara numa carta a seu professor, aos 15 anos,em 1870: “Estou loucamente determinado a adorar a liberdade livre”. Palavras que antecederam em um século outros revolucionários franceses que em maio de 1968 proclamaram ao mundo seu inconformismo com outros tipos de cerceamento à liberdade.

O autor não se furta em abordar o tema da homossexualidade de Rimbaud, analisada à luz de depoimentos de seus contemporâneos, de sua produção poética, do que disseram seus biógrafos anteriores.A relação conflituosa com o poeta Paul Verlaine é descrita em três capítulos,mas,prudentemente,Nicholl prefere não fazer juízos finais a respeito de seu biografado:
“Sua sexualidade permanece, como tudo mais a seu respeito, indecifrável”.
De Rimbaud na África: os últimos anos de um poeta no exílio (1880-1891) emerge principalmente a imagem de um jovem e um homem sem amarras,que ama acima de tudo a “liberdade livre” de não fincar raízes,de,como dele disse Verlaine, ser um “homem de solas de vento”. Um espírito inquieto que o leva a ser operário em fábricas, peão em fazendas, professor em colégios, soldado do Exército colonial holandês, marinheiro em navio mercante, mercador de caravanas. Para traçar um retrato o mais vivo possível das andanças africanas de Rimbaud, Nicholl fez ele próprio viagens a lugares onde viveu o poeta - ou por onde ele passou - nessa fase final de sua vida, entre 1880 até sua morte em 1891. Daí descortinam-se para o leitor, com um vigor descritivo adquirido a partir de um olhar próprio, o Iêmen,o Djibuti,a Etiópia,o Egito e até a obscura Somalilândia.Por seu alcance,sua profundidade e sua seriedade acadêmica, o livro de Nicholl se credencia a tornar-se citação obrigatória em qualquer obra publicada daqui em diante sobre a vida de Rimbaud. Por sua prosa bem desenvolvida, ele igualmente se credencia a um lugar na estante de qualquer um que goste de uma história bem contada, seja ela de ficção ou baseada, como no caso,na vida real.A dobradinha Nicholl-Rimbaud,biógrafo e biografado,tem os requisitos necessários para entrar na lista dos grandes sucessos de lançamento editorial da temporada.

Charles Nicholl escreveu nove livros, entre ensaios históricos,biografias e literatura de viagens,incluindo os premiados Leonardo Da Vinci - Flights of the mind e The reckoning: the murder of Christopher Marlowe. Apresentou dois documentários na televisão britânica e foi professor na Inglaterra, na Itália e nos Estados Unidos.

Por Carlos Magno Araújocmagno@diariodenatal.com.br


RIMBAUD NA ÁFRICA:OS
ÚLTIMOS ANOS DE UM POETA
NO EXÍLIO
(1880-1891)
Charles Nicholl
Nova Fronteira - 496 páginas
R$ 59,90

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