“Os
servos têm o poder”, diz Jim Morrison, juntando-se a precentores
proeminentes, de Nietzsche, passando por John Rawls, Rousseau e La Boétie, dentre
outros. O que fazem essas figuras agarradas ao cetro do poder, se são
ignorantes, ressentidas e pueris? Dinheiro não lhes falta, dada a
concupiscência, avareza e o anseio de serem “servidos por uma corte” de
escravos. E mesmo assim encontramos quem sirva ou é forçado a servir a “lerdos
e obesos generais” que “tornam-se obscenos pelo sangue jovem”.
Para Jim Morrison “os servos têm o
poder” porque encontram aqueles que estão dispostos a abdicar de sua liberdade
e se “deixam ser conduzidos” aos currais. Deixam-se ser enganados, manipulados.
Mas é justamente a disponibilidade do homem à servidão voluntária o que
justifica a escravidão, como disse La Boétie.
Os fortes [ou Lordes] não podem se
guiar por regras morais em conformidade com os servos que têm o poder; os
fortes [Lordes] devem estar comprometidos apenas com a própria vontade, com a
sua própria singularidade. Disso depende toda a mudança na sociedade. São eles
que têm o poder de impulsionar as mudanças.
Mas as sociedades, se querem a
liberdade, não podem deixar de escolher viver numa forma coletiva que assegure
a liberdade entre todos. Haveria alguma política com essa capacidade de quebrar
essas correntes, de derrubar as cercanias desses currais que confinam as massas
alienadas? Existe sim, mas somente na “democracia plena”, disse Jim Morrison. Mas uma “democracia plena” não se faz com a servidão voluntaria das
pessoas, que vivem como gado, ruminando sua passividade vergonhosa, enquanto as
mazelas proliferam por todo o tecido social, deixando milhões na pobreza, sem
educação, saúde, moradia e trabalho.
“Wake up! Wake up!” Clama Jim
Morrison. Mas o sono da alienação é difícil
de acordar, quando as pessoas não querem despertar para a liberdade
perdida.
Valquiria Asche de Paula – formada em psicologia e mestranda em psicologia social