Jim Morrison, dotado de ambições titânicas e de uma
forte necessidade de transcendência, viveu para exprimir a sua vontade de potência. A sua ação levava-o a
questionar a passividade das pessoas, a subserviência às autoridades, sejam
elas quais forem, e quis causar a ruína de todas as leis, criando um círculo
mágico mais elevado, entenda-se transcendente, pretendendo a fundação de um
novo reino. No seu impulso heróico em direção à universalidade, na tentativa de
ultrapassar a barreira da individuação, parecia sentir, como está escrito no
Nascimento da Tragédia, “a natureza gemer com a repartição da individuação”. A
lenda transgride, perece em Paris e revela-se trágica.
Numa busca metafísica
até ao desconhecido, mas queria levar o público consigo, no seu pensar, para um
reino melhor, para um lugar ideal.
Os padrões pelos
quais a sua arte deve ser avaliada são ancestrais e mais profundos. Ali “o
homem diviniza-se, sente-se deus”, diz seu mestre Nietzsche.
Jim Morrison colocou
máscaras ancestrais de deuses e titãs regressando aos primórdios. Imergiu no
mundo das formas oníricas, para “concluir que existe uma profundidade anterior
na contemplação das imagens dos sonhos”(Nietzsche: O Nascimento da Tragédia).
Pois os sonhos, apesar de já esquecidos de sua ligação com a nossa
ancestralidade, “tem importância análoga para a essência misteriosa da nossa
natureza, para a intimidade de que somos a aparência exterior”, diz Nietzsche
na Origem da Tragédia. É quando nos damos conta da abolição do tempo que surge,
assim, por meio da imitação de arquétipos e da repetição de gestos
paradigmáticos.
De fato, não importa
como Jim Morrison morreu, apenas como viveu. Não estava procurando a morte,
pois esta é nossa companheira o tempo todo, até que ela nos toca no ombro
esquerdo (Carlos Castaneda – uma Estranha Realidade), mas sim saboreando
intensamente o agora existencial. Ademias, como disse ele certa vez: “não
existe morte”, (Ray Manzarek – light my fire, p. 125). Isto é, as coisas passam
continuamente pela metamorfose, deixa de estar numa forma para estar em outra,
mas continua sendo o mesmo (Carlos Castaneda).
Jim Morrison viveu com o objetivo que
o nascimento propõe: descobrir-se a si próprio, sua vontade de potencia, sua
força e seu potencial. Ele fê-lo.
Artigo de Pedro Paulo Lévy - formado em Letras pela UFU (A Universidade Federal de Uberlândia)
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