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O dia em que conheci Jim Morrison

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domingo, 7 de junho de 2015

Jim Morrison - a encruzilhada e as vias da liberdade


Wake up! Cavaleiros da tempestade chegaram para escancarar as portas, arrancá-las das dobradiças, reduzí-las a pó. A energia poética, primordial, comprometida, circulou pelos centros nervosos, percorreu as mentes e os espíritos, os corpos flutuaram como véus imaculados, animados por uma onda intensa e mágica, à espera do sol, do amor novo, do amor vivo, percorrendo as vias que levam à liberdade. Imóveis, na zona mais escura do cinema, somos todos «voyeurs» e projetamo-nos nas personagens, nos desertos, nos lagartos, nas auto-estradas, encontramos por fim na encruzilhada, lugar onde todos têm seus encontros marcados com as nossas infindáveis decisões: que caminho seguir?

Sabemos que além do nosso horizonte existe outra dimensão, o mistério ultrapassa a nossa compreensão, o impossível seduz. O yoga, sempre o yoga. O xadrez ronda a perfeição, o yoga é eterno e constante na sua busca da luz, nada mais importa, todo o movimento é um gesto de passagem imortalizado — quero consumir-me agora em toda a minha plenitude, extinguir-me no êxtase absoluto, regressar ao corpo donde vim. Xamã vidente, índio de olhar profundo como a noite, homem em transe, animal que ritualiza para descobrir os mistérios da vida no reverso da iniciação da morte.

Tenho a idade que tenho e quero estar na cidade dos possessos, dançar, fazer amor e erguer um novo campanário, beber o vinho que nos foi prometido, quero o mundo e quero-o agora! O mundo em chamas... Vocês tiveram uma colossal opinião pública, uma Califórnia florida a dançar, políticos e generais a assistirem à derrota pela TV, tiveram Woodstock. Nós tivemos % Mouros a iluminar um país há demasiado tempo cinzento e apático e um grupo de capitães com audácia, tomates e cravos. Devolveram-nos a nós e dançamos com o volume no máximo.

Segue-me, vem incendiar os caminhos com o fogo da dança que trazemos nos nossos pés; vamos correr, abrir para o outro lado! Édipo nos espera no limiar da auto-estrada, Antígona e as Bacantes organizaram um festim em nossa honra.  Vamos violar, saquear, santificar o anfiteatro — Genet, Poe, Blake e Huxley dançam os Sátiros, é um sacrifício ritual, o festim dos inocentes, a catarse de Nietzsche e Brecht advertem as novas gerações para o recrudescer do fascismo. Shiva lembra-nos que é preciso destruir para renascer. O mundo em chamas.  

Isto não é o fim, meus irmãos, as portas estão por todos os lados, nos palácios ministérios, nos teatros, nas prisões, nos santuários...  É entrar, meus senhores, é entrar se se têm coragem! Sair bem,  é só para quem souber seguir o fio de Ariadne.

— Estás do outro lado, finalmente, com outros cavaleiros, esqueceste a tempestade... Havia uma mulher, não, havia muitas mulheres; houve cidades, muitas cidades; houve Fogo. Um fogo na praia, tocado pelo vento do Pacífico, e houve a Vontade. A Vontade disse diz, e tu disseste. A Vontade disse canta, e tu cantaste. A Vontade disse grita, e tu gritaste. Foste então senhor do templo, rei lagarto. Até que a Vontade chamou-te de volta ao reverso da vida. A passagem estreita se abriu. Entraste e encontrou a eternidade. Outras folhas juntam-se as primeiras, engrossam o monte, que mais forte rodopia e se afasta trauteando — isto era o que se dizia como o Fim, meu solitário amigo, o Fim, mas é só mais um começo.

Artigo de Jorge de Palma e
                Ana Welt

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