Jim Morrison foi o primeiro a
perceber a dimensão religiosa dos concertos ao vivo. Morrison não fazia mais
que afirmar o óbvio. Todo o rock n'roll, suponho que ninguém duvida, deriva da
soul music praticada nas igrejas negras americanas. Esses meetings entre o
pagão e o cristão têm origem na grande diáspora da escravatura africana. Ou
seja, a velha cultura xamânica negra remixada pelos MC's do cristianismo WASP.
Ora, Morrison era uma espécie de xamã elétrico que buscou no deserto, com a
ajuda de ácido, a mesma revelação mística que o Nazareno buscou noutro deserto
através do jejum. Aliás, pese a heresia para alguns crentes que só conhecem das
Escrituras o que a vulgata do Vaticano lhes impinge todos os domingos, Jim
Morrison deve todo o seu imaginário ao Novo Testamento que, sem tirar nem pôr,
nos legou um conceito tão cristão quanto beatnik: viver depressa, morrer jovem
e deixar um cadáver bonito.
Entre a revelação no deserto e a crucificação em Jerusalém decorrem escassos três anos. Do primeiro «The Doors» em 1967, até ao último «L.A. Woman» em 1971, decorrem escassos quatro anos. Um tinha trinta e três anos quando foi crucificado, o outro tinha vinte e sete quando morreu com uma overdose de vida. Está bem, Jim Morrison não deixou um cadáver lá muito bonito. Morreu demasiado inchado, como qualquer alcoólico que se preze. Mas morreu rindo, completamente nu, na banheira do seu apartamento número 17 da Rue Beautreillis, enquanto Pamela Courson, no quarto ao lado, tentava tratar Deus por tu através de uma seringa hipodérmica de 3 cc. com aquilo a que, umas décadas antes, a respeitável Bayer cognominara — racional e germanicamente — de Heroína.
Artigo de José Xavier Ezequiel
Entre a revelação no deserto e a crucificação em Jerusalém decorrem escassos três anos. Do primeiro «The Doors» em 1967, até ao último «L.A. Woman» em 1971, decorrem escassos quatro anos. Um tinha trinta e três anos quando foi crucificado, o outro tinha vinte e sete quando morreu com uma overdose de vida. Está bem, Jim Morrison não deixou um cadáver lá muito bonito. Morreu demasiado inchado, como qualquer alcoólico que se preze. Mas morreu rindo, completamente nu, na banheira do seu apartamento número 17 da Rue Beautreillis, enquanto Pamela Courson, no quarto ao lado, tentava tratar Deus por tu através de uma seringa hipodérmica de 3 cc. com aquilo a que, umas décadas antes, a respeitável Bayer cognominara — racional e germanicamente — de Heroína.
Artigo de José Xavier Ezequiel
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