Jornal InFocos
Reportagem
de Thiago Falbo
Novembro
de 2009
Em entrevista para o Jornal
InFocos, o professor de filosofia Helder Modesto fala do seu livro sobre o
poeta americano Jim Morrison.
Jim Morrison era poeta,
tendo editado um de seus livros ainda vivo, formado em cinema pela UCLA –
Universidade da Califórnia – tornou-se mundialmente conhecido como vocalista da
banda de rock mais literária do mundo - The Doors. Já não mais satisfeito como vocalista de sua
banda, resolve abandonar tudo e dedicar-se somente à poesia. Parte para Paris,
cidade de seus ídolos da literatura e da filosofia, onde veio a morrer de
parada cardíaca. Ainda vivo, Morrison já era considerado por unanimidade pelos críticos
como um dos vocalistas mais icônicos, carismático e pioneiro do rock da
história da música.
JI
– Do que trata seu livro, é uma
biografia de Jim Morrison?
Não, não é uma biografia. É
uma introdução que faço a respeito da vida e da obra musical e literária de
Jim. Como há muito poucos – raros - trabalhos a esse respeito, fiz esse livro
levando em consideração a sua vida, procurando mostrar sua visão de mundo
frente às coisas.
JI
– As letras e a poesia de Jim Morrison
falam de sexo, xamanismo, morte, mito, transcendência, o outro lado. O que ele
procurava?
Jim era um incansável
buscador. Inquieto, estava sempre refletindo sobre as questões mais importantes
no interior da vida. O que somos, o sentido da vida, o amor, sexo, a repressão
[muito forte na época], a individualidade, coisa que Jim sempre defendia.
Enfim, sua música e sua poesia estão marcadas por essa preocupação subjetiva
como finalidade e função ordenadora de vislumbrar
um novo modo de existência que perpassa pela criatividade e constituição das singularidades.
Um assumir-se como senhor de si, como um “Lord” de sua própria vida e de seu
próprio destino.
JI
– The Doors soa bastante diferente dentro do mundo do Rock...
Sim. Podemos afirmar
categoricamente que não existe nenhuma outra banda que fez algo similar ou
mesmo parecido com os Doors.
JI
– Qual é a principal mensagem de Jim? O que ele buscava?
Creio que seja a liberdade.
Jim buscava a liberdade. Isso está bem refletido em suas composições, mas está
em seus livros de poesia, em seus pensamentos... É claro que Jim falava de
sexo, o outro lado, a alegria, o prazer, o lado escuro da existência, mas isso
tudo como estofo para ampliar os campos da liberdade.
JI
– Jim Morrison dizia que as pessoas temem a liberdade e estão sempre ouvindo e
seguindo seus lideres. Você acha que isso mudou ou continua a mesma coisa?
Continua. As mudanças
maiores foram os avanços tecnológicos,
os avanços da ciência, mas as pessoas continuam procurando líderes, gurus,
grupos, facções, enfim, uma figura qualquer em que possam sujeitar suas decisões
mais importantes. Diante disso, as pessoas aceitam essa insignificância
pessoal, dissolvem-se em um poder superior de uma figura que elas seguem, e
isso as fazem sentir orgulhosas de seguir um poder maior que lhes dá a ilusão
de estar seguras e protegidas. Sempre foi assim. As pessoas estão sempre numa "encruzilhada": ou buscam a liberdade, ou permitem ser conduzidas.
Por outro lado, esquecem do
propósito de suas próprias vidas, continuam alheias às questões mais caras e
que sempre foram as questões que envolvem o conhecimento de si, de seu destino,
de sua origem, enfim, de onde veio para onde vai... Nisso nos lembra a
passagem: não há nada de novo sob o sol. Jim conjurava imagens dessas
possibilidades de alcançar a liberdade, da nossa condição, e revelava as
fissuras do homem e de sua subjetividade não desterritorializada.
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